Vice de Doria, Rodrigo Garcia vira gerente de governo e acumula tarefas sensíveis

Político do DEM é visto como sucessor natural ao Palácio dos Bandeirantes em 2022

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São Paulo

Pela mesa de Rodrigo Garcia (DEM), 45, vice-governador de São Paulo, passam projetos prioritários, controle de gastos e parcerias com a iniciativa privada. As atribuições não são as de um vice, mas do secretário de Governo, cargo que aceitou após convite do governador João Doria (PSDB).

Durante a corrida eleitoral do ano passado, vencida de forma apertada por 740 mil votos, Doria percebeu o perfil “tocador” de Garcia. O vice era coordenador da campanha e conseguia tirar as coisas do papel.

Eleito, tornou-se o gerente do governo Doria. É reconhecido internamente pelo caráter técnico e pela experiência na gestão pública. De 2010 a 2018, Garcia foi secretário municipal na gestão Gilberto Kassab (PSD) e secretário estadual de três pastas na gestão Geraldo Alckmin (PSDB).

Para Doria, é uma mão na roda. Além de se dedicar à viabilização das metas do tucano, Garcia compõe seu time de seguidores fiéis. É aliado incondicional do governador, a quem se refere como “chefe”, “comandante” e “líder”.

Garcia conhece a máxima de que vice é expectativa, mas tem habilidade para domar as suas próprias. Entre aliados, é tido como candidato a governador em 2022 —embora não admita e desconverse quando questionado a respeito.

Como é postulante ao Planalto, Doria teria de deixar o cargo até o início de abril de 2022 para disputar as eleições, abrindo espaço para ao menos nove meses de gestão solo de Garcia no Palácio dos Bandeirantes. 

Seus planos estão, portanto, necessariamente ligados aos de Doria, a quem conheceu como prefeito de São Paulo enquanto era secretário de Habitação. 

“É muito cedo. O foco agora é absoluto em gestão, em entrega”, diz sobre 2022. Mas tem vontade de ser governador? “Tenho vontade de ser um ótimo vice.”

O futuro político de Garcia está sujeito ainda à performance do governo Doria. Entre as prioridades do vice estão destravar cinco obras até 2020: as linhas 6-laranja, 17-ouro e 18-bronze do metrô (que será um corredor rápido de ônibus), o trecho norte do Rodoanel e os contornos da rodovia dos Tamoios.

De trem intercidades a reforma de aeroportos do interior, tudo tem o olhar de Garcia. Sob a alçada da Secretaria de Governo estão a subsecretaria de Parcerias e Inovação, responsável por PPPs (parcerias público-privadas), e a subsecretaria de Assuntos Estratégicos, que monitora a execução de mais de 200 projetos da gestão Doria.

O cerne da estratégia do tucano está, no entanto, em segurança e geração de emprego. Sobre o primeiro ponto, a principal reivindicação é um aumento salarial das polícias, e passa por Garcia o pente-fino nas despesas do governo. Ele integra o Comitê Gestor do Gasto Público e trabalha em parceria com Henrique Meirelles, secretário da Fazenda.

A expectativa é anunciar um reajuste até o fim deste ano. A promessa é que, até o final do mandato, a polícia de São Paulo tenha os melhores salários entre os estados.

O segundo ponto, emprego, também lhe diz respeito. Para atrair empresas a São Paulo, Doria já viajou a cinco países (Suíça, EUA, Inglaterra, China e Alemanha) e deve ir ao Japão no mês que vem. Com isso, no total, Garcia já exerceu o cargo de governador por cerca de um mês, nesses oito meses de gestão.

Garcia, na verdade, já ocupa o gabinete do governador. Isso porque Doria, ao reformar o Palácio dos Bandeirantes, levou seu gabinete para dentro da área residencial, liberando para o vice as salas de escritório comumente usadas pelo governador.

Mesmo nos dias em que não é governador, Garcia se ocupa do todo. O secretário de Governo é quem media a relação entre as demais pastas e cuida do desenho institucional da gestão. Para o vice, trata-se de um governo descentralizado, com equipe sênior, delegação clara de poderes e autonomia.  

Apesar de atuar há anos nos bastidores do Executivo, Garcia, advogado nascido em Tanabi (a 500 km de São Paulo), também tem experiência como deputado. Elegeu-se deputado estadual pela primeira vez em 1998, aos 24 anos, em dobradinha com o então aliado Kassab.

“Quem sabe sabe/ vota comigo/ federal é Kassab/ estadual é Rodrigo”, dizia o famoso jingle de campanha. Mesmo como candidato, Garcia permanecia discreto.

Ele se reelegeu duas vezes seguidas para a Assembleia Legislativa, que veio a presidir de 2005 a 2007. Em 2010, foi eleito deputado federal e reeleito quatro anos mais tarde. Nesse período, porém, se licenciou da Câmara em diversas ocasiões para assumir secretarias de Alckmin.

Em fevereiro do ano passado, chegou a ser eleito líder da bancada do DEM na Câmara dos Deputados. Em São Paulo, preside o partido, que caminha alinhado a Doria. Um dos principais interlocutores do governador é o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Por muito tempo, Kassab era a principal aliança de Garcia. Em 1997, quando Kassab foi secretário municipal de Planejamento, Garcia foi seu chefe de gabinete. Os dois chegaram a ser sócios em empresas de transporte, gráfica, construção civil e pecuária.

Em 2011, devido à fundação do PSD por Kassab, eles romperam a aliança —mas isso são águas passadas. Ambos foram escalados por Doria para ocuparem postos estratégicos em seu governo: Garcia na Secretaria de Governo e Kassab na Casa Civil.

Kassab, no entanto, pediu licença do cargo para se defender de acusações de corrupção pelas quais é investigado pela Polícia Federal. O ex-prefeito e ex-ministro foi alvo de uma operação de busca e apreensão, sob suspeita de ter recebido valores ilegalmente da JBS, o que ele nega.

Garcia também é alvo de acusações. Recentemente, a Folha revelou que o ex-presidente da OAS preso pela Lava Jato em Curitiba, o empresário Léo Pinheiro, disse ter autorizado o pagamento de R$ 1 milhão em espécie a Garcia para acelerar liberação de verba para obra da linha 4-amarela do Metrô de São Paulo.

Respondendo à reportagem, Garcia disse que "não tinha tempo de comentar uma história sem pé nem cabeça". "Em passado recente, fui vítima deste mesmo tipo de acusação e provei minha inocência", afirmou.

O vice teve o nome citado na delação da Odebrecht, que apontava recebimento de R$ 200 mil em caixa dois, e na delação da Siemens, que falava em pagamento de propina. As duas investigações foram arquivadas no STF por falta de provas.

Ainda pesa sobre ele, no entanto, a fala de um outro delator da Odebrecht, que narrou pagamento de propina sobre o contrato da linha 2-verde para custear campanhas, inclusive a de Garcia. O relato foi corroborado na recém-firmada delação de Sérgio Brasil, ex-diretor do Metrô em gestões tucanas. O vice diz que a acusação não tem fundamento

Já o irmão de Garcia, o empresário Marco Aurélio Garcia, foi condenado em novembro de 2018 em segunda instância a 16 anos de prisão por lavagem de dinheiro no esquema conhecido como máfia do ISS (Imposto Sobre Serviços). Conhecidos da família dizem que os irmãos são afastados. 

A rotina de Garcia, que é casado e pai de três filhos, tem sido inteiramente dedicada ao governo. Por cansaço, suspendeu os exercícios físicos. Às 6h já está pronto para responder emails e WhatsApps do chefe. O despacho com o vice, geralmente entre 20h e 21h, costuma encerrar a agenda de Doria a cada dia.​


RAIO-X: RODRIGO GARCIA

Nasceu em maio de 1974, em Tanabi (SP). Foi criado em São José do Rio Preto (SP), é advogado e dono de uma empresa de agropecuária. Começou a trabalhar como assistente técnico na Câmara dos Deputados e alcançou espaço na política como deputado estadual, federal e secretário estadual. Foi aliado de Gilberto Kassab (PSD). É o presidente do DEM em São Paulo

OS PROJETOS NA MESA DO VICE

  • Destravar cinco obras até 2020: linhas 6-laranja, 17-ouro e 18-bronze do Metrô, Rodoanel Norte e contornos da rodovia dos Tamoios
  • Criar agência estadual de transporte de passageiros, que abrace funções da Artesp, do EMTU, Metrô e CPTM
  • Licitação de trem movido a biodiesel de SP ao interior, que depende de autorização do governo federal
  • Concessão das linhas 8 e 9 da CPTM
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